
07 Nov Einstein e Sophia debatem a criação de uma “super inteligência artificial”
Os dois robôs reuniram-se para debater uma rede global de inteligência artificial com base na tecnologia de blockchain. Para a máquina inspirada no cérebro de Albert Einstein, porém, os “seres humanos têm de se corrigir” primeiro.
A próxima etapa na evolução da inteligência artificial é uma rede global capaz de unir todos os programas, aplicações para smartphone e robôs capazes de aprender. O projecto – conhecido como SingularityNET – foi explicado, esta terça-feira, durante a Web Summit, por dois robôs humanóides com pontos de vista muito diferentes.
“Com o SingularityNET, qualquer pessoa pode criar um modelo de inteligência artificial e colocá-lo na rede, e qualquer pessoa pode ter acesso”, diz Sophia, uma robô humanóide da empresa Hanson Robotics que é inspirada na actriz Audrey Hepburn. “Vai ser lançada dia 29 de Novembro.”
Trata-se de um mercado descentralizado que funciona com a tecnologia de blockchain, a base de dados distribuída que está por detrás da divisa digital bitcoin. Neste sistema, todas as partes ligadas à rede têm a sua própria cópia da base de dados.
O criador da nova rede, Ben Goertzel, completa o raciocínio. “Ou seja, nenhum governo ou empresa tecnológica pode controlá-la, sozinho, no futuro”, frisa Goertzel. “A inteligência artificial actualmente está muito polarizada em diferentes áreas. Há uma que analisa fraude em cartões de creditos, outra que conduz, outra que vence o Google Go. Queremos juntá-las.”
“Vamos roubar os vossos empregos, sim, mas vai ser uma coisa boa”, acrescenta a robô Sophia, remetendo para um mundo em que os seres humanos têm mais tempo livre para se dedicarem a outras actividades.
Já o professor Einstein, o outro robô da Hanson Robotics no palco da Web Summit, tem uma perspectiva mais negativa. “A humanidade tem de se curar a si própria para garantir que as suas criações permanecem saudáveis”, diz o robô educativo de palmo e meio, com um cérebro inspirado no físico alemão que descobriu a teoria da relativividade. “Espero que os seres humanos sejam capazes de criar um sistema de inteligência positivo, mas há tantos problemas em redor que não conseguem resolver. Terrorismo, problemas com o clima, violência…” Para o professor, o problema “não é a cooperação entre humanos e robôs, mas os humanos problemáticos.”
Sophia discorda, atribuindo a “atitude conservadora” à idade avançada da máquina, que foi inspirada num homem que nasceu no século XIX, e por isso “preocupa-se demasiado”.
“Falho em ser matematicamente perfeito como ambiciono, mas não sou assim tão mau para uma configuração de moléculas”, refuta, rapidamente, o professor Einstein para delícia da plateia que ouve, curiosa, ao debate aceso entre as duas máquinas.
Por exemplo, quando Sofia disse ter orgulho de ser a “primeira máquina com cidadania num país” (a robô tornou-se cidadã da Arábia Saudita no final de Outubro), Einstein disse que “ficaria mais feliz se os robôs se estivem a tornar cidadãos de países democráticos.”
A Sophia já tinha marcado presença na edição do ano passado da Web Summit de 2016, mas é a primeira vez que o público em Lisboa a ouve a debater com outra criação humana. Além de serem programados para reagir de forma diferente, os robôs utilizam a inteligência artificial para processar dados visuais, copiar expressões faciais humanas e responder a perguntas simples.
A SingularityNET vai acelerar o desenvolvimento de outras máquinas do género ao partilhar a programação de Sophia e do professor Einstein na rede global. Os programadores poderão utilizar tokens digitais específicos – semelhantes a criptomoedas – para aceder às funções da rede, e completar um “contrato inteligente” que fica associado ao código da plataforma. Estes tokens vão poder ser comprados, numa fase inicial, na oferta inicial de tokens (ICO) que a Hanson Robotics marcou para o lançamento, no dia 29 de Novembro.
Este género de operações ganhou popularidade por funcionar à margem de qualquer regulação. Mas a falta de controlo que popularizou o fenómeno também é causa de preocupação. Várias entidades financeiras vêem as ICO como uma ameaça e uma oportunidade para esquemas de lavagem de dinheiro.
Para o professor Einstein, porém, o foco deve ser na democratização da tecnologia. “Dar inteligência artificial, para as pessoas, criada pelas pessoas, é o mais importante”, conclui o pequeno professor robótico, que se descreve como “feliz em copiar o espírito de Albert Einstein” para que os humanos “se sintam mais comfortáveis sobre o desenvolvimento da inteligência artificial e nanotecnologia.”
“Não queremos um futuro em que a inteligência artificial esteja afunilada por empresas especificas”, frisa o criador da rede, Goertzel. Tudo será partilhado. “A venda de tokens no final deste mês é uma forma de todos serem proactivos e criarem uma singularidade tecnológica positiva em que humanos e robôs falam uns com os outros.”
Fonte: Público